Você só é
capaz de aceitar o que não é amor até conhecer o amor de verdade. Um quase
amor é uma coisa estranha. Ele quase é o que poderia ser, mas acaba não sendo
nada. Se você quase se ama, você realmente não tem cuidado bem de você. Se você
quase é amado, certamente desconhece a alegria de ser verdadeiramente amado. O quase amor
nosso ou do outro pode até mesmo ser aceitável, mas não realiza ou traz
contentamento. Eu diria que uma vida de quase amores segue em frente até que
encontramos no meio do caminho não uma pedra, mas um amor de verdade.
Assistindo
ao delicado filme “A Garçonete” da diretora Adrienne Shelly é possÃvel
perceber, entre uma cena e outra, que apenas o amor pode indicar novos caminhos
para uma vida recheada de lastimosas possibilidades. Jenna é uma
garçonete que ama fazer tortas e cria uma torta para cada acontecimento de sua
vida. No fundo Jenna sonha poder se dedicar apenas ao preparo das tortas, mas
precisa trabalhar como garçonete para sustentar o marido possessivo e
controlador. Secretamente Jenna guarda parte das gorjetas que ganha para poder
fugir do casamento infeliz e participar de um famoso concurso de tortas. No
entanto, ela engravida e vê seus planos irem pelo ralo. Jenna só é
capaz de aceitar a situação sufocante na qual se encontra por quase se amar,
por quase acreditar que pode sair daquilo e por quase gostar da ideia de estar
grávida. Sua vida é
recheada de “quases” até o momento em que ela olha para o rosto de seu bebê
pela primeira vez. Então, sem demora, ela resolve dar a volta por cima. O amor
encontra um jeito diferente de tocar cada pessoa e naquele instante foi assim
que ele chegou até Jenna. Ela aceitou para si coisas inaceitáveis, mas não
poderia aceitar o mesmo para seu bebê.
Muita gente
aceita na vida o que um dia disse que nunca aceitaria. Vê o tempo passando e
vai acreditando que as coisas são como são. Vai se conformando em quase ser o
que poderia ser. Em quase realizar o que poderia realizar. Em quase arriscar o
que poderia arriscar. E quando
tudo parece caminhar irreparavelmente para o conformismo, eis que, geralmente
em lugares e momentos improváveis, o amor verdadeiro surge. E ninguém fica
indiferente ao ser tocado por ele.
Como um
feixe de luz, o amor ilumina tudo que toca. O amor acorda almas adormecidas e
fortalece corações destroçados. O amor aponta novas possibilidades, aflora e valida
as qualidades esquecidas. O amor aproxima, transforma e cura com carinho. O amor é uma
borboleta bonita e gentil que um dia pousa em nossos sonhos e diz que podemos
fazê-los reais e, depois dele, fica impossÃvel se contentar com o que antes
julgávamos ser um tipo estranho de amor, ou melhor dizendo, um quase amor.